guerras universais, à espera de uma terceira muito mais atroz. As iniquidades do nosso tempo vedam a serenidade necessária a juízos desapaixonados, em que possamos analisar com elevação um período histórico e melhor compreender a mentalidade dos que nele existiram. Requeria a lavoura açucareira no Brasil do século XVI, homens como Gabriel Soares, e não seria temerário repetir o mesmo acerca de séculos seguintes, porquanto não lhe facultaria outra atitude, se quisesse em tempo útil aproveitar as suas forças para angariar trabalhadores rurais e os guerreiros necessários às descidas do sertão. Demonstraram recentes experiências, que a produção de gêneros como açúcar ou café necessita caráter latifundiário, e tanto melhor funcionará quanto mais exclusivamente for aplicado este princípio. Evidenciam, igualmente, que a tentativa coletivista não consegue se substituir à iniciativa privada, embora pareça revoltante prêmio ao escopo de lucro individual. Mas assim o quer a insanável imperfeição humana, e examinado por este prisma, Gabriel Soares se nos afigura elemento típico dos produtores baianos do século XVI, peritos na exploração semiagrária, semi-industrial da cana-de-açúcar, e desejosos na sua orientação política de alcançar de qualquer modo o máximo de rendimento da terra. Será porventura diferente a atitude dos estadistas de países hoje submetidos a experiências totalitárias, sob rótulo humanitário? Mostrava-se em todo caso mais completo o malogrado Governador do São Francisco do que os seus longínquos imitadores, visto que depois de escolher a gleba, reunia braços, dispunha roças e maquinários, formara rebanhos e ainda pretendia desvendar o misterioso acesso das minas, que seria o coroamento da sua carreira, de artífice de riquezas para o seu Rei e a sua grei.