História social do Brasil - Espírito da sociedade colonial - Tomo I

as tribos inimigas; dividiram-se; os colonos exploraram e promoveram as suas guerras de mútua destruição; e assim, em meio século, a grande população selvagem do Brasil desamparou as regiões de leste, para que o forasteiro, em pequeno número e assemelhado ao índio pela sua prodigiosa adaptação às condições do país, por ele entrasse vitoriosamente.

O jesuíta foi o "bandeirante" da primeira hora: achou os rumos do sertão; o mameluco foi o "bandeirante" dos descobrimentos geográficos: internou o povoamento e deu à colônia um contorno continental. Naturalmente os dois pioneiros, o da cruz e o da espada, lutariam pela preservação da sua conquista. O padre não consentiu no cativeiro dos gentios, indispensável, entretanto, ao trabalho rude das lavouras, ao desenvolvimento da onda invasora. E o mameluco rebelou-se contra o padre. A colonização cindiu-se em dois tipos diferentes, já no ano de 1554, quando Anchieta e os seus companheiros fundaram o Colégio de S. Paulo. De um lado ficou, nas suas terras baixas e agrícolas, o cristão fixado pelas suas lavouras, patriarca numa sociedade mestiçada de índios e negros, trabalhadores escravos descidos dos sertões pelos mamelucos ou importados d'África pelos navegantes portugueses. Do outro lado, espalham-se pelo planalto os homens seduzidos pelas amplas perspectivas do país aberto, em cujos horizontes longínquos a lenda cabocla escondera fabulosos tesouros, as minas encantadas, as cidades misteriosas. Ao nomadismo do altiplano contrapôs-se o sedentarismo da baixada. À "bandeira" de deslocamento fácil,

História social do Brasil - Espírito da sociedade colonial - Tomo I - Página 18 - Thumb Visualização
Formato
Texto