Sobrados e mucambos

PREFÁCIO

A tentativa de reconstituição e de interpretação de certos aspectos mais íntimos da história social da família brasileira, iniciada em trabalho anterior, é agora continuada, dentro do mesmo critério e da mesma técnica de estudo.

Nestas páginas, procura-se principalmente estudar os processos de subordinação e, ao mesmo tempo, os de acomodação, de uma raça à outra, de várias religiões e tradições de cultura a uma só, que caracterizaram a formação do nosso patriarcado rural e, a partir dos fins do século XVIII, o seu declínio e o desenvolvimento das cidades; a formação do Império; ia quase dizendo, a formação do povo brasileiro.

A princípio, os processos mais ativos foram os de subordinação e até de coerção. O procurador do Estado do Maranhão em 1654, Manoel Guedes Aranha, chega a ser tão incisivo na expressão de suas ideias de subordinação dos índios ou dos pretos aos brancos, como qualquer arianista ou ocidentalista moderno: "Se os nobres nos países civilizados - pensava ele - são tidos em grande estima, com maior razão devem ser estimados os homens brancos em país de hereges; porque aqueles foram criados com o leite da Igreja e da fé cristã". Além do que, "sabido é que diferentes homens são próprios para diferentes coisas; nós (brancos) somos próprios para introduzir a religião entre eles (índios e pretos); e eles adequados para nos servir, caçar para nós, pescar para nós, trabalhar para nós".

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