Se as possibilidades de utilização de material, na aparência tão vil, ou apenas pitoresco, mas na verdade rico e até opulento de substância do maior interesse histórico e da mais profunda significação social, escapam aos que só compreendem os estudos sociais, solenes e grandiosos e servindo-se apenas de documentos ilustres, mestres como Afonso d'E. Taunay e Paulo Prado souberam reconhecer a importância e o valor de riqueza tão grande e até hoje, tão desaproveitada. Agradeço a Afonso d'E. Taunay as boas palavras de animação, e mais do que isso, de lúcida e simpática compreensão, que me dirigiu primeiro em carta, depois em artigo, justamente quando críticos menos autorizados e mais afoitos proclamavam não enxergar senão pitoresco e blague em todo aquele esforço.
O presente trabalho tem, como o anterior, defeitos de distribuição de material; repetições; às vezes a matéria de um capítulo transborda no outro. Também fui obrigado a insistir em certos assuntos já tocados no estudo anterior; mas de ponto de vista diverso.
O que João Ribeiro estranhou na primeira parte do trabalho - a já publicada - também estranharia nesta: não conclui. Procura interpretar e esclarecer o material reunido e, tem um rumo ou sentido novo de interpretação; mas não conclui. Sugere mais do que afirma.
A ausência de conclusões, a pobreza de afirmações, não significa, porém, repúdio de responsabilidade intelectual pelo que possa haver de pouco ortodoxo nestas páginas. De contrário ao estabelecido, ao aceito, ao consagrado. Porque essa qualidade revolucionária vem da própria evidência do material reunido e aqui revelado, e interpretado, dentro da maior objetividade possível, de método e de técnica.
É tempo de procurarmos ver na formação brasileira a série de desajustamentos profundos, ao lado dos ajustamentos e dos equilíbrios, e de vê-los em conjunto, desembaraçando-nos de estreitos pontos de vista e de ânsias