Sobrados e mucambos

entre as reconstituições de velhos sobrados da cidade de São Paulo e até do burgo inteiro, no fim da primeira metade do século XIX, trabalho de inteligência e de pachorra, realizado por Afonso d'E. Taunay.

É considerável a massa de notícias, avisos e principalmente de anúncios de jornal da época colonial e do tempo do Império, em que se baseiam algumas das generalizações, neste livro. Anúncios de escravo, de casa, de móvel, de dentista, de sapato, de chapéu, de médico, de modista, de teatro, de mágico, de colégio, de livros, de comidas e gulodices recebidas da Europa. Anúncios nos quais vem se acusando, através do século XIX, a admiração quase supersticiosa do brasileiro pelo estrangeiro, pelo europeu, pelo inglês, pelo francês, - cujos nomes "Edgar", "Lamartine", "Arthur" e até "Benjamin Franklin", foram substituindo, no batismo dos meninos, os "Tales", Ulisses" e "Temístocles", dos princípios do século XIX, e competindo com os nomes indígenas - a ponto das melhores casas, as melhores criadas, os melhores móveis, acabarem sendo anunciados "para família estrangeira", para "casa estrangeira", para "senhor estrangeiro" - fato, aliás, que ainda se observa nos anúncios dos nossos dias. Há mais de 40 anos o fenômeno já servia de assunto a uma das crônicas mais interessantes e finas de França Júnior.

O estudo dos anúncios de jornal, nos quais antes só se enxergava o pitoresco, creio estar sendo utilizado pela primeira vez, dentro da técnica sociológica, para interpretação sociológicas e antropológicas. A essa utilização e a essas interpretações outras poderão se ajuntar com igual ou maior proveito: médicas por exemplo. Folclóricas. Filológicas. Puramente históricas. Aliás, já o Dr. Luís Robalinho Cavalcanti, em trabalho que prepara sobre o ainhum, no Brasil, vem colhendo naquela fonte sua melhor e mais flagrante documentação histórica.

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