corte, fidalgos para lhe beijarem a mão gordurosa mais prudente, soldados para desfilarem em dia de festa diante do seu palácio, ministros estrangeiros, físicos, maestros para lhe tocarem música de igreja, palmeiras imperiais a cuja sombra se levantariam as primeiras escolas superiores, a primeira Biblioteca, o primeiro Banco; a simples presença de um monarca em terra tão republicanizada como o Brasil, com suas Rochelas de insubordinação, seus senhores de engenho, seus mineiros e seus paulistas que desobedeciam o rei distante, que desrespeitavam, prendiam e até expulsavam representantes de Sua Majestade (como os de Pernambuco com o Xumbergas); que já tinham tentado se estabelecer em repúblicas; a simples presença de um monarca em terra tão antimonárquica nas suas tendências para autonomias regionais e até feudais, veio modificar a fisionomia da sociedade colonial; alterá-la nos seus traços mais característicos.
Uma série de influências econômicas e sociais, algumas anteriores à chegada do príncipe, mas que só depois dela se definiram ou tomaram cor, começaram a alterar a estrutura da colônia, principalmente no sentido do maior prestígio do poder real. Mas não só do poder real - que se avigorou, mesmo nas mãos moleronas de Dom João; também das cidades e das indústrias urbanas. Também estas se avigoraram e ganharam maior prestígio.
A intervenção mais direta da Coroa nos negócios do Brasil, desde que se descobrira ouro e se desenvolvera a indústria das minas, intervenção que provocou em Vila Rica a revolta de 1720 e a Inconfidência, há tempo que vinha preparando o ambiente para a maior centralização de governo e o avigoramento do poder real. Ao chegar Dom João ao Rio, a independência dos senhores de engenho, dos paulistas, dos mineiros e dos fazendeiros já não era a mesma do século XVII; nem tamanha, sua arrogância.