do Brasil são ainda frequentes; refletem-se na política, estimulando atritos e rivalidades entre grupos e regiões. Rivalidades entre "gaúchos" e "baianos"; entre paulistas e "cabeças chatas". Mas a sua interpretação não se pode fazer pelo critério simplista de conflitos entre raças que fossem biológica ou psicologicamente incapazes de se entenderem e de se conciliarem. Como não se pode fazer pelo critério, igualmente simplista, da pura luta de classes. A disparidade vem antes do conflito entre as fases ou os momentos de cultura que, encarnados a princípio pelas três raças diversas, hoje o são por populações ou "raças" puramente sociais. Por diferenças regionais de progresso técnico. Pela maior ou menor facilidade de contatos sociais e intelectuais de grupos ou regiões.
Também a disparidade procede das distâncias sociais ainda grandes que se acentuaram, entre nós, com o desenvolvimento da economia industrial. As cidades passaram a conservar dentro delas, no alto dos morros, à sombra dos seus boeiros de fábricas e de usinas, mocambarias e favelas profundamente diferenciadas da parte nobre da população. Uma espécie de inimigos à vista; de mouros sempre na costa ou sempre nos morros. Populações diferenciadas de tal modo da dominante pela diversidade de condições materiais de vida - coincidindo, pelas consequências da escravidão, com a diversidade de cor - que a psicologia de grupo, e não de raça, é que provisoriamente, pelo menos, se mostra mais viva e mais distinta entre os brasileiros: os da área mais europeizada com relação aos das manchas, não tanto de sangue, como de vida mais africana ou mais elementar.
Mesmo, porém, nessa fase de maior diferenciação social entre sobrados e mocambos, não têm faltado elementos de intercomunicação entre esses extremos sociais ou de cultura. De modo que os antagonismos não