O negro no Rio de Janeiro: relações de raças numa sociedade em mudança

Julgamos ter conseguido, naquela ocasião, ao menos chamar a atenção para o fato, no que se refere ao Brasil, de que tudo isso, nos seus múltiplos e variadíssimos aspectos, podia e devia ser objeto de análise científica, matéria de estudo, e que o fato desses problemas serem hoje campo de acirrada pugna econômica, política e ideológica não devia impedir, muito pelo contrário, que para os cientistas sociais eles se apresentem, precisamente por isto mesmo, como campo de pesquisas.

Durante a preparação do plano de trabalhos do Departamento, que foi a grande tarefa a que se dedicou Arthur Ramos em, Paris, ele nos escreveu algumas vezes - duas cartas suas nos chegaram quase juntas, para aumentar o sentimento de opressão subjetiva causada por sua perda irreparável, depois da notícia de seu falecimento - e assegurou-nos que nossa conversa não fora esquecida.

Suas preferências culturais e profissionais, entretanto, haviam imprimido à ideia um endereço certo e específico e ele a concretizou no plano de uma grande pesquisa sobre relações de raça "num país da América Latina", a ser designado pela Conferência Geral, com o objetivo de conhecer os fatores que contribuem para dar ao quadro étnico de uma sociedade nacional a feição própria que apresenta.

Em relação ao campo muito mais vasto atrás referido - o setor particular em que hoje laboramos é apenas um começo, mas um excelente começo, pois o material empírico existe em abundância, a experiência de outros países é bastante conhecida e os característicos originais de nossa experiência, embora seja assunto sare o qual muito se fale, era um setor de pesquisas onde restava ainda muito - talvez o principal - a fazer.

Quando, em dezembro de 1949, depois do falecimento de Arthur Ramos, reuniu-se em Paris, por ele convocado,

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