O negro no Rio de Janeiro: relações de raças numa sociedade em mudança

de participar, a seu convite. Pretendeu-se utilizar o mecanismo já montado e os trabalhos já em andamento para realizar, através deles, a pesquisa sobre relações de raças planejada pela UNESCO.

Fizemos o que esteve ao nosso alcance para evitar essa limitação do campo e dos objetivos do estudo, insistindo sobre a necessidade de manter a coerência com as ideias mestras e as perspectivas que inspiraram essa iniciativa desde o seu berço e que ficariam por certo frustradas se nos restringíssemos ao estudo do problema numa área em que as relações de raças se desenrolam, sem alterações notáveis, dentro do quadro tradicional, sem estarem sofrendo ainda, em cheio, as consequências das mudanças de estrutura em processo na sociedade brasileira e que constituem, exatamente o que há de novo e essencial na situação, tal como se desenvolve noutras áreas do País.

Foi fundamentalmente justa e fecunda, portanto, a resolução do Professor Métraux não concentrar o estudo na Bahia; do ponto de vista metodológico ela foi de decisiva importância, pois ensejou a possibilidade de ser feito, pela primeira vez neste País, o estudo sociológico do negro nas áreas metropolitanas do Rio de Janeiro e São Paulo. Em verdade, a pesquisa da UNESCO sobre relações de raças no Brasil não podia, sob pena de perder a envergadura científica e a seriedade intelectual, que deve ter, continuar apresentando ao mundo, em monografias folclóricas e ensaios de literatura histórica, o quadro tradicional das relações de raças, hoje em acelerado processo de superação, como o que há de mais novo e fundamental na situação racial brasileira. Já era tempo de dizer um "basta" e de corrigir esse "bias", que uma concepção falsa de orgulho nacional, de um lado, e a inércia mental, de outro, cultivaram por tanto tempo e exportaram para todo o mundo.

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