desembaraço. Agora, as memórias, pró-memórias, ofícios, informações, pareceres e cartas do Dr. Duarte, irão formar volumes, encher estantes nos arquivos da Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros, sobre os assuntos diplomáticos de grande interesse para o Império.
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Duarte chegou a Lisboa, de caminho para Espanha, em fins de 1826. Havia muito que Napoleão não era mais o senhor da Europa. Substituíra-o pela Santa Aliança o Congresso de Viena. Depois do intenso período que findara, caracterizado pelos exércitos que se estraçoaram mutuamente e a todos fatigaram e escorcharam, já era então de boa política contrapor-se ao personalismo de uma época, em que se matara em nome de um homem, o anonimato de um rótulo, mais ou menos elástico e inexpressivo, onde todos coubessem com as suas mazelas e interesses, sem, no entanto, ninguém se responsabilizar pelas mortes decorrentes.
Em 1826 a Santa Aliança subsistia, ainda que agonizante. As lutas que se desenrolaram em quase toda Europa; as desavenças, logo surgidas, entre as potências que a constituíram; o desencontro dos interesses a que visavam os aliados demonstravam que a época de veleidades reacionárias caducara. Contudo, a Espanha, que pouco antes fora cenário de intervenção francesa em nome da Aliança, acreditava na existência daquele conglomerado de interesses já transmalhados. E, na impossibilidade de repor sozinha o mundo — mesmo o extraeuropeu — no pó em que se encontrava quando Napoleão o revolvera todo, acastelara-se ela, abstraída da realidade, na esperança de que lhe restituiria a Santa Aliança as colônias perdidas. Enquanto isso, a Inglaterra