a desanuviar-lhe um pouco o semblante, que caracterizaram o cavalheiro Duarte, de 1832, o comendador Duarte, de 1841, e o conselheiro Duarte, de 1851. Apenas no brilho dos seus olhos, na arrogância de sua testa larga e nariz reto e comprido, é que se reconhece o antigo diplomata. O seu rosto belicoso de general demudara-se numa expressão cansada e nostálgica, de quem se habituara a contemplar longínqua paisagem, em que se esbatiam sombras do passado. As barbas longas e brancas deram-lhe a semelhança dos profetas de Israel. Tudo nele se modificara no sentido de o estilizar naquilo mesmo que ele simbolizava, a tradição de uma época, que os moços nem sempre compreenderam e por isso a temiam. Setenta e nove anos fizera Ponte Ribeiro em 1874. Porém não era homem que se cansasse da vida. Interessara-se, durante 50 ou 60 anos, por certos assuntos, sempre muito realísticos, para, mesmo aos 79 anos de idade, se sentir cansado de viver. Vivera com prazer e abstraído com inúmeras coisas importantes, para ele, para poder prestar atenção ao tempo que passava. Ao seu lado, a sua mulher, a Baronesa da Ponte Ribeiro ou Dona Joana, como fora conhecida até 1873, continuava a mesma: simples, corajosa, a enfrentar com ele os mesmos perigos e a compartilhar os mesmos sacrifícios. Agora já não havia a preocupação dos filhos, mas o amor dos netos, que, para os velhos, são símbolos da sua sobrevivência e, por isso, talvez, mais queridos e mimados.
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Voltava Ponte Ribeiro para residir na casa que lhe construíra o seu filho Luís, na rua Bambino n. 23. Fora este filho, o mais moço, no final da vida de Ponte,