D. Pedro II e o Conde de Gobineau (correspondências inéditas)

Isaías, espero que o Imperador se dignará dar-me também comunicação e eu a mostrarei ao Senhor Renan que ma pediu com antecedência. Não duvido, ainda que o Imperador nunca me tenha falado em suas cartas, que os manuscritos do Salmo de Ruth, e que enviei ao Rio pela Legação de Vossa Majestade, lhe tenha chegado às mãos.

Vossa Majestade soube da morte do pobre Mérimée.(5) Nota do Autor A última vez que o vi, ele pretendia escrever ao Imperador para agradecer-lhe a respeito do arco. Não sei se conseguiu fazê-lo. Ele estava pior de sua bronquite, mas ainda mais desesperado com os acontecimentos e sobretudo com a queda do Império. Ele disse abraçando-me quando eu o deixei: "O que me consola, é que não tenho muito tempo para viver" e partiu para Cannes onde morreu. Despir-se inteiramente de toda sensibilidade foi o empenho de toda sua vida, entretanto a tristeza causou-lhe o derradeiro golpe e eis o que são os sentimentos, as opiniões e as pretensões humanas. Estimava muito Mérimée e sinto vivamente a sua perda.

Que Vossa Majestade não me julgue numa completa inatividade intelectual, no meio desta perturbação. Meus amigos procuram vender na Inglaterra, nos Estados Unidos e na Rússia minhas coleções de pedras gravadas asiáticas e de manuscritos árabes, persas e afegãos. É um negócio avaliado em 160 mil francos e se pudesse efetuar-se prontamente, isto me seria uma grande ajuda. Mas as cousas podem demorar; o que eu quero dizer é que fiz catálogos, e sobretudo o de minhas pedras gravadas é uma verdadeira história da Arte asiática desde a época das pedras não talhadas até nossos dias.

D. Pedro II e o Conde de Gobineau (correspondências inéditas) - Página 37 - Thumb Visualização
Formato
Texto