D. Pedro II e o Conde de Gobineau (correspondências inéditas)

principais: a falsa prudência, a desmoralização profunda e, numa palavra, o embrutecimento da nação.

Chamo falsa prudência esta ideia que têm muitos velhos políticos, como os amigos do Sr. Dufaure e outros: não apressemos o advento da monarquia e deixemos uma república transitória se interpor entre os últimos dias da invasão e o começo de um regime definitivo. É preciso ter cautela. Sabe-se como o provisório começa, principalmente em França, e ninguém pode prever como acabará. Quando o Sr. Thiers votou em 1848 a favor do Príncipe Luís Bonaparte, ele chamava a isto ir adiante, este incêndio suposto durou 21 anos e custou muito caro. Se tivermos uma república postiça, o que daí sairá, não sabemos. Parece-me possível termos em breve a realeza; que de dificuldades a esperam, disso não duvidamos um só instante, mas vale mais fazer frente a elas que aumentá-las. Quanto a mim, sou realista às claras, falo nesse tom a meus colegas do Conselho Geral e estou convencido de que faríamos mal em nos jogarmos nos manejos de um maquiavelismo bastante arriscado.

No que diz respeito ao estado da desmoralização geral, é impossível, Senhor, fazer-se uma ideia completa. Há seis meses sustenta-se esta população unicamente de mentiras. Ela julga-se vitoriosa dos alemães em toda a linha e como os resultados vão de encontro a esta maneira de ver, ela arranja tudo dizendo-se traída. A ignorância é tão profunda em todas as classes, e o hábito de não contar com o valor moral dos homens tão enraizado que não se admite mais nem os méritos da honestidade, do talento, da previdência, da ciência das cousas, nem os desastres causados pela imperícia e incapacidade e as loucas ambições. Todo o mundo é traidor, todo o mundo vende o país; por quê? com que interesse? de que maneira? É que ninguém reflete antes

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