de Assis, seus pais, moravam ali. O pai era pintor e dourador. A mãe trabalhava em casa do senhorio, como lavadeira. Francisco de Assis diz o professor Hemetério dos Santos que era homem inteligente, dotado de algum sentimento artístico, um tanto propenso a leituras fáceis. Mas não via com bons olhos a inclinação literária do filho, supondo que lhe impediria acesso na vida. Estava com a razão prática. Não poderia nunca conjeturar que Machado de Assis houvera de ser o que foi. Admoestava, pois, com bom senso, porque, de certa maneira e em toda parte, quanto mais no Brasil, o artista não tem função econômica no meio social. Espécie de pária, e literatura não é carreira, literatura não é trabalho conversível em dinheiro. Até hoje, corrido tanto tempo, subsiste ainda aquele temor dos pais, saturados de experiência humana.
Quanto a Maria Leopoldina Machado de Assis, mãe do escritor, não deixou, na memória dos homens, impressão exata a respeito de sua índole. Havia de ter sido boa criatura, metida exclusivamente com seus afazeres dela e cuidados diários de família, que não era numerosa. Além de Machado, teve apenas uma filha, que cedo faleceu. Foi escrito que o fino prosador de Braz Cubas descendia de alcoólatras e sifilíticos. Não sei a dose de verdade que possa haver na afirmativa. Aí fica, como documento psicológico para análise do caráter do artista. Um ponto a ser apurado ou meditado.
O que é certo é que Machado de Assis gozou a infância livre dos meninos pobres em bairro humilde. As impressões colhidas nesse ambiente impregnaram-lhe a obra literária. A sensibilidade infantil e mórbida, por efeito de usura orgânica e da enfermidade, que lhe dramatizou a existência sempre sobressaltada, foi instrumento hábil a captar e fixar emoções pitorescas, apanhadas no morro do Livramento, na Conceição, na Saúde,