que se encarapita o povo, no viver tão expressivo e humano. Foi esta, para sua sensibilidade retrátil, a primeira e fecunda lição da vida. Não teria, então, consciência dela, porque a felicidade infantil - única felicidade neste mundo - só possui olhos para sentir o momento risonho, que passa. Alegria anímica de ave ou borboleta!
Mas teria sido Machado como as outras crianças, com quem andava ao léu? Não, não foi. Mofino, enfermiço e raquítico, além da condição mesquinha em que vivia, Machado já então começou, de vez em quando, a sentir umas cousas esquisitas. Sobre este ponto, informa a escritora Lúcia Miguel-Pereira, no livro consciencioso que escreveu a respeito dele: - "... foi um menino franzino, doentio, pois ele se lembrava de ter tido, na infância, umas cousas esquisitas, certamente os primeiros ataques do mal que o atormentou durante a vida." Era a epilepsia. Acrescia ainda que era mulatinho, gago, feio. E tímido, encolhido também, por essas razões psíquicas.
A notável ensaísta, a que acabo de referir-me, fornece significativas informações sobre o que pudera ter sido aquela quadra da existência de Machado. São conjecturas plausíveis, deduções verossímeis, não havendo - isto é que é verdade - muitos fatos averiguados. A infância de Machado é parte desconhecida de sua existência. Nunca se pronunciou claramente em relação à origem, senão pela válvula da arte, de maneira indireta. Pudor? Pode ser. Pode ser também orgulho, pejo de confessar a pobreza de onde proveio. Vaidade de mulato. Fatuidade talvez, como se aqui todos não fôssemos grande parte, como somos, mais ou menos descendentes de pretos, com maior ou menor dinamização. Muito tempo depois, já em pleno fastígio social, compunha fisionomia e atitude o seu tanto postiças, no bovarismo de parecer aristocrata. Cada