um de nós paga tributo irrecusável ao ridículo humano ! Até os humoristas...
Como se não bastassem a afligi-lo as circunstâncias ingratas em que ia crescendo, perdeu Machado de Assis a mãe, quando ainda era bastante criança. Não é dado a ninguém calcular o alcance desse desamparo. Fato corriqueiro da vida, encerra, nas consequências secretas, misteriosa significação. Ficou, porém, como os demais daquele tempo, obscuro na psicologia ulterior do homem. A influência de Maria Leopoldina no temperamento e educação do filho é interrogativa. Encobre-se nas dobras do mistério. Ela veio como sombra e passou como sombra pelo mundo. Na alma do filho, colheram-se unicamente as emoções impressas em vaga poesia, de que Alfredo Pujol dá alguns trechos numa das conferências, que proferiu, falando de Machado, na Sociedade de Cultura Artística, em S. Paulo. Cousa ligeira e suave. Um pouco de melancolia poética:
"Se devo ter no peito uma lembrânça,
é dela, que os meus sonhos de criança
dourou: é minha mãe.
Se dentro do meu peito macilento,
o fôgo da saudade me arde lento,
é dela: minha mãe".
Em todo o longo tempo em que viveu, nunca mais falou dela, nunca mais mostrou saudades dela. Refiro-me ao que se lê em sua obra literária. Nesta, nenhum sinal se vê a lembrá-la ou a evocá-la. Nem mesmo através das cartas numerosas, que dirigiu a amigos. Aliás - diga-se em abono dele - em sua vida não entram mulheres, à exceção de Carolina, que lhe encheu e informou a existência de homem feito. Neste sentido, tudo o mais que houve parece ter sido passageiro. Amores de moço poeta, terminados nos próprios poemas, que inspiraram.