Algum tempo após a viuvez, Francisco de Assis casou-se com a mulata Maria Inês, que foi, pelo gênio amorável e pela dedicação, boa madrasta para o enteado. A segunda esposa do pintor parece que possuía algumas letras, poucas letras, em todo caso suficientes, então, para poder guiar ou assistir ao menino em seus estudos ou inclinação. Defendia a este contra a birra do pai. "Ensinava-lhe todas as noites, e às escondidas, o pouco que sabia, quando o marido ia discretear com o vigário de S. Cristóvão, onde moravam, ou ia com os companheiros jogar as cartas em família e à puridade, conforme o costume daqueles tempos"(2). Nota do Autor Foi nessa época que começou também a estudar o francês com o forneiro de Madame Gallot, com padaria sita à rua de S. Luiz Gonzaga. O resultado foi surpreendente, graças à inteligência e aplicação de Machado. Teria sido acaso Maria Inês quem obtivera do forneiro lhe ministrasse ao enteado as lições de francês. "Eu conheci essa boa mulata velha - escreve Hemetério dos Santos, referindo-se à madrasta do escritor - comendo de estranhos, com amor e conforto máximo, chorando, porém, pelo abandono nojoso em que a lançara o enteado de outrora, nunca mais a procurando desde a mudança de São Cristóvão, lugarejo de operários, para o opulento nicho de glória nas Laranjeiras. Quatorze anos de paz a retiveram na casa de Eduardo Marcelino da Paixão, onde morreu, abençoada de todos, pela grandeza do seu coração e por ter sido o anjo tutelar de Machado de Assis".
Cabe aqui um parêntesis. A meu ver, tem-se dado desumana importância ao fato de haver Machado abandonado Maria Inês. Não se pode defendê-lo dessa má ação, mas supor que o caso haja influído decisivamente na arte do prosaísta, como quer Lúcia Miguel-Pereira,