e julgá-lo com a acrimônia do professor Hemetério, é um tanto excessivo. Muitas considerações sensatas lhe atenuam a atitude. A explicação dada pela escritora pressupõe remorso ou arrependimento, recalcado na alma de Machado. É uma hipótese. Não quis qualificar o procedimento do homem, senão por ele mesmo. Fez bem.
Quanto ao professor Hemetério, vê-se-lhe o exagero no próprio teor da crítica. O preto teria ciúme ou inveja do mulato, da glória literária e do prestígio social do mulato. Isto é que é. Não houve abandono nojoso, nem, tampouco, opulento nicho de glória nas Laranjeiras. Machado teria esquecido simplesmente a madrasta. A residência em Laranjeiras era nicho modesto e singelo, porque viveu sempre modestamente, singelamente. Existência quase de pobre, para seu valor e para sua meticulosa capacidade de trabalho.
Tê-la-ia, porém, abandonado por orgulho, por desprezo, por vaidade? Como se poderá saber ao certo? A consideração do caso leva-nos a pesar muita coisa sutil.
Vendo o filho sempre a ler, só a ler afincadamente, alheio ao mundo, alheio aos interesses, alheio aos amigos, a mãe de Flaubert observou um dia:
- Meu filho! os livros te estão empedernindo o coração!
É certo. Arte é sacerdócio, exclui toda e qualquer outra preocupação no mundo. Machado foi exemplo disso. Viveu continuamente metido consigo mesmo, com a leitura, com o trabalho, com a sua ideia fixa. Fazia abstração de tudo o mais. Cultivou pouco a amizade. Usurária é a sua vida sentimental. E depois, o trabalho e a luta pela vida o absorveram sempre. E a doença. E a timidez. E a justa ambição de subir pelo próprio esforço, desajudado da sorte e dos homens. Sua falha, uma das poucas encontradas ao longo de