Machado de Assis, o homem e a obra – Os personagens explicam o autor

toda a vida, sempre tão reta e tão direita, deve, pois, ser julgada do ponto de vista sentimental, mas não como falha de caráter. Pode-se mais uma vez repetir: - para o artista verdadeiro, como foi ele, arte é tudo, tudo o mais é nada. Teria, porém, pelo menos um momento, segundo relata suponho que Coelho Neto, volvido atenção para a madrasta esquecida. Encontrando-se, certa ocasião, com aquele homem de letras, convidou-o a acompanhá-lo. Neto foi. Machado entrou em casa pobre, em bairro pobre, em que havia uma pessoa morta. Ali esteve algum tempo, silencioso, meditativo. Saíram, depois. Em caminho, a uma pergunta ou diante da atitude indagadora do companheiro, informou, triste: "é minha mãe!"

Só poderia ser Maria Inês.

É fora de dúvida também que, após a morte do pai, residiu em sua companhia largo tempo. E ninguém sabe ao certo quais foram os motivos que determinaram a separação. Além disso, julgam-se homens como homens. Nas veias de Machado não corria sangue de Maria Inês. Boa ou má, e parece que boa, era madrasta. E madrasta é sempre madrasta. Convém dizer, afinal, que gratidão não é regra humana, por mais que, todo o dia, a sabedoria oratória assegure o contrário. Ninguém terá bastante autoridade para atirar-lhe a primeira pedra.

Aprendido o pouco que se ensinava na escola pública de então, pouco e mal ensinado, como, guardadas as relatividades, até hoje se nota, aprendido o francês com o forneiro de Madame Gallot, Machado, daí por diante, será autodidata, como acontece mais ou menos com toda gente. Acabou o melhor professor de si mesmo.

Lutando com a penúria, tinha que prover à subsistência. Foi, primeiro, vendedor de balas, naquela quadra a que nos referimos, em que aprendia o francês. Querem alguns que tenha sido também sacristão na

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