Machado de Assis, o homem e a obra – Os personagens explicam o autor

frisa-lhe o feitio de mineiro: o jeito de comentar a palestra, de fazer notações à margem. Bernardo Guimarães, apesar de bonomista e boêmio, tinha a melancolia, o feitio recolhido do homem de Minas, que só se expande intermitentemente, em rodas íntimas. Pelo que ficou contado, a convivência de Machado com Bernardo Guimarães não foi duradoura, havendo-se retirado o último da corte em fins de 1860 ou 1861, porque, neste ano, era juiz em Goiás.

Com Francisco Otaviano já foi o contrário. Este exerceu sobre ele grande influência. Influência pessoal. Otaviano gozava então de apreciável predomínio político, social e literário, que hoje a nossos olhos se torna um tanto injustificado. Talvez fosse devido à sedução emanada de sua figura. Era um gentleman, e o homem de boas maneiras, de fina educação realçada pelo brilho da palavra, pela centelha do espírito, tem sempre prestígio entre a barbárie indígena. Prestígio fugaz, como o de atores, que se vai apagando com o tempo. É este precisamente o caso de Francisco Otaviano. Entre os políticos de sua época, em que fulgenteou na primeira plana, veio a ocupar, no julgamento posterior, lugar secundário. Entre os homens de letras, a mesma cousa. Parece também que a sua obra de jornalista é de somenos importância: comentários leves, meio céticos em torno de homens e acontecimentos. Silvio Roméro foi quem o situou bem no mundo de nossa cultura, em nossa história política e literária. Homem de sociedade, encantador, jornalista de ocasião e poeta gracioso. Ele próprio, quando se queixava, aludindo à política - infecunda Messalina - autobiografa-se: sentia a melancolia de haver falhado. Era um tanto sarcasta, um pouco irônico. Perguntaram-lhe uma ocasião:

- Como vai o Imperador, Otaviano?

Machado de Assis, o homem e a obra – Os personagens explicam o autor  - Página 42 - Thumb Visualização
Formato
Texto