Machado de Assis, o homem e a obra – Os personagens explicam o autor

a verdade. Eis um grupo de homens que foram infelizes na vida: - Swift, Sterne, João Paulo Richter, Henrique Heine, Cervantes, Dickens, Machado de Assis. O húmus em que floresceu o pensamento deles foram lágrimas, tormentos, tristeza, melancolia. A arte foi a forma de seleção, foi a resposta que deram às injustiças do mundo. E revidam a desgraça, suprimindo as forças vitais. A fatalidade para eles é o ritmo da vida, de modo que os homens, como os concebem, não passam de fantoches. A mecanização dos seres que surgem na obra humorística não é processo de humour como quer Henrique Bergson. Eles mecanizam a vida, porque assim a veem ou interpretam, a modo do otimista, que é o antípoda do humorista, e que vê sempre róseo e jovial. O homem é um autômato, um boneco, como os seus atos e gestos são mecânicos. É um indivíduo trágico sem tragédia. Não tem senso moral do que faz, principalmente de seus atos heroicos. Quando Machado de Assis nos pinta a morte de Rubião, no Quincas Borba, a colocar na cabeça de moribundo a coroa imperial hipotética, dá-nos a cena de perfeito humour, de modo que o leitor é solicitado, ao mesmo tempo, pela lágrima e pelo sorriso. Rubião é dolorosamente engraçado. Se o leitor tem lágrima, pode chorar. Se só tem riso, ria. É a mesma cousa, explica o autor. O ato é dramático, como é cômico, isto é, não passa de desconcerto da natureza.

Aliás, Geroge Brandes assevera que o trágico e o cómico se harmonizam em um só sentido(2). Nota do Autor Fundam-se em uma lógica contraditória. "Trágico é o que é e não devia ser. Cômico é o que devia ser e não é". Assim, um prestigitador que vai fazer um passe, em público, e não o faz é cômico. Aconteceu o que não devia acontecer. O sofrimento do justo é trágico, porque

Machado de Assis, o homem e a obra – Os personagens explicam o autor  - Página 452 - Thumb Visualização
Formato
Texto