que é e não devia ser. No humour vemos uma mistura dos dois estados. Exemplo é a passagem acima indicada da morte de Rubião, no Quincas Borba.
Atitude costumeira de humoristas é dissertarem logicamente, miudamente, gravemente sobre assuntos fúteis, como, também, o falar com frivolidade abundante em argumentos sobre problemas graves da existência. Um dos característicos do humour é, pois, logicidade no absurdo. Típica de tal atitude é a página muitas vezes citada de Swift, propondo, para solver o problema do pauperismo, que se aproveitasse a carne das criancinhas pobres. O humour aí está menos na ideia do que na maneira calma, convicta e lógica com que desenvolve a sugestão.
O humorista mostra-se, por outro lado, chocarreiro com a morte, com cuja inevitabilidade brinca, sorri amarelo, faz esgares. Toma assim a postura inverossímil de um rato que se apraz em brincar com um gato, sabendo que vai ser devorado. Ou então põe a dose necessária de inocência em face do perigo, como aquele homem, vigia do paiol de pólvora, que dormia sobre o mesmo, para maior segurança do cumprimento do dever.
Machado de Assis, toda vez que se refere á morte, fá-lo de modo entre sério e cômico, com a placidez do matemático a demonstrar um problema. Não varia neste ponto. Em toda a sua obra é sempre o mesmo. Um exemplo só, e é a explicação que Quincas Borba dá a Rubião do que venha a ser morte, na teoria do humanitismo. Recorre à morte de sua avó. Assim fala o filósofo: "No momento em que minha avó saía do adro para ir à cadeirinha, um pouco distante, aconteceu espantar-se uma das bestas da sege; a besta disparou, a outra imitou-a, confusão, tumulto, minha avó caiu, e tanto as mulas como a sege passaram-lhe por cima".
- Foi realmente uma desgraça, disse Rubião.
- Não.