desta teoria, Freud cita um exemplo, contado por Heine. Um coletor de loteria vangloriava-se de suas relações familiares com Salomon Rotschild. Achava-se ele assentado ao pé do milionário e este o tratava como se fosse a um igual. Então, o pobre homem, relatando a recepção obtida, resumia-a com emoção:
- Rotschild tratou-me familionariamente. O desdobramento explicativo pode ser feito do modo seguinte: - o milionário é um inacessível. Só recebe criaturas importantes. Mas eu, que sou um pobre diabo, fui tratado familiarmente pelo milionário, isto é, familionariamente. Mas não é somente no fato verbal da condensação pelo substitutivo que se percebem dois ou mais elementos mentais contraditórios. Em muitas passagens de humour dá-se o mesmo. Em Braz Cubas, o jovem Braz, ao referir-se a seus amores vadios com Marcela, explica que ela o amou durante quinze meses e onze contos de réis. Tais contradições entre os bons e maus sentimentos encerram a técnica usual do raciocínio do autor. Qualquer leitor de Machado de Assis sabe que a sua lei é a contradição, é o antagonismo de emoções, de ideias e de caracteres e de fatos. Aqui está como ele joga com as ideias contraditoriamente: "Marcela morria de amores pelo Xavier. Não morria, vivia. Viver não é a mesma cousa que morrer; assim o afirmam todos os joalheiros deste mundo, gente muito vista na gramática". Da contradição de sentimentos ou emoções, o melhor exemplo talvez venha a ser, em toda a sua obra, cheia deles, o capítulo conhecido de "O almocreve", no Braz Cubas. O desconcerto de caracteres deparamo-lo em muitos contos, em quase todos os romances e em quase todos os casais, que aparecem em seus livros. É desnecessário indicá-los. Até nos títulos, há fluxo e refluxo. Títulos de dois capítulos: "Triste, mas curto; Curto, mas alegre." Mas onde Machado é useiro e vezeiro no antagonismo é nos pensamentos,