Machado de Assis, o homem e a obra – Os personagens explicam o autor

nos aforismos. "O mundo, diz ele, o mundo era estreito para Alexandre; o desvão de telhado é o infinito para as andorinhas".

"Tudo acaba, leitor, lá afirma o escritor no D. Casmurro; é um velho truismo a que se pode acrescentar que nem tudo o que dura, dura muito tempo. Esta segunda parte não acha crentes fáceis; ao contrário, - a ideia de que um castelo de vento dura mais que o mesmo vento de que é feito, dificilmente se despegará da cabeça, e é bom que seja assim, para que se não perca o costume daquelas construções eternas".

Esse espírito de contradição e dúvida é mais apreciável, quando um acontecimento qualquer perturba um personagem, que se torna como joguete entre as impressões dominantes no cérebro. O espírito do sujeito parece uma peteca (a comparação é de Machado) parece uma peteca: - uma ideia atira-o para um lado, outro pensamento contrabate-o e ele, perplexo, permanece no vai e vem contraditório. Seus personagens titubeiam humoristicamente no ato, no pensamento, no desejo e na interpretação. São moscas que se enleiam na teia de aranha das meditações e dos desejos incertos. É assim que vemos Rubião, no Quincas Borba, debater-se na dúvida sobre se devia ir ou não à casa de Sofia. Resolveu, por fim, deferir ao acaso a decisão. "Pôs o caso à sorte. Se o primeiro carro que passasse viesse da direita, iria; se viesse da esquerda, não. E deixou-se estar na sala, no pouf central, olhando. Veio logo um tílburi da esquerda. Estava dito; não ia a Santa Tereza. Mas aqui a consciência reagiu; queria os próprios termos da proposta: - um carro. Tílburi não era carro. Devia ser o que vulgarmente se chama carro, uma caleça inteira ou meia, ou ainda uma vitória. Daí a pouco vieram chegando da direita muitas caleças, que voltavam de um enterro. Foi.

Machado de Assis, o homem e a obra – Os personagens explicam o autor  - Página 457 - Thumb Visualização
Formato
Texto