ponto, mas aqui voltamos ao caso para dizer simplesmente que não há nada estranhável em tal predileção. É o mesmo fato que se observa com todos os humoristas, sem exceção. É talvez a preocupação do homem que constitui a singularidade do humorista. A razão foi dada por Henrique Bergson em sua obra - Le rire-Essai sur la signification du comique. Não há cômico, diz aquele autor, não há cômico além do que é propriamente humano. Uma paisagem poderá despertar em nós qualquer emoção - de beleza, de melancolia, de grandeza - mas nunca será risível. Ninguém rirá de uma paisagem. Rir-se-á de um animal, pondera Bergson, mas porque surpreenderemos nele uma atitude ou expressão humana. O mesmo acontece com qualquer objeto. Portanto, nada fora do humano desperta comicidade. Por esta razão é que todo o humorista, como é o caso de Machado, só se interessa pelo homem e pelo seu destino.
Argue-se também que a obra de Machado de Assis é despida de emoção. É fria, seca, sem sopro de piedade. Outro característico do humour, como tivemos ensejo de frisar, e quem o explica é ainda Bergson, ao afirmar que a indiferença é o meio natural do cômico. Não há maior inimigo da emoção do que o riso. "O cômico exige, para produzir efeito completo, como que a anestesia momentânea do coração. Ele se dirige à inteligência pura". É também refractário ao isolamento, obtendo o riso de homem para homem. Visa a multidão. O humour é esse mesmo cômico, sufocado por uma dose de melancolia. É destilado pela criatura que vive, para empregar uma frase de Machado, que vive na volúpia do aborrecimento.
Como o cômico, reveste o humour múltiplos aspectos, como sejam o humour de forma, de movimento, de situação, de caráter e de pensamento. Em Machado de Assis o humour aparece em todas as suas modalidades,