Machado de Assis, o homem e a obra – Os personagens explicam o autor

primando o de caráter, de situação e de pensamento. Quer dizer: - seus personagens são humorísticos, como o são as situações em que se metem na vida, verificando-se o mesmo com as suas ideias.

O caráter de Braz Cubas, de Quincas Borba, de Rubião, de Luiz Garcia, de Bento Santiago, do conselheiro Aires e de quase a totalidade das figuras masculinas dos contos é invariavelmente humorística. Quando escreve crônicas, busca sempre, sempre, casos que se prestem à interpretação humorística, como outrossim figuras que o sejam. Esta é a feição predominante de toda a sua obra e aquilo que a singulariza, substancialmente, na literatura brasileira. Eis aqui alguns exemplos de contos assim, exemplos que se poderiam aumentar à vontade: O alienista, Teoria do medalhão, A chinela turca, O segredo do Banzo, O espêlho, O empréstimo, Verba testamentária, Anedota do cabriolet, Igreja do Diabo, O Lapso, Galeria Póstuma, As Academias de Sitio, Capítulo dos chapeus, Anedota pecuniária, Identidade, O escrivão Coimbra, Entre Santos, Jogo do bicho e outros, tantos outros. Tinha, portanto, concepção humorista dos homens e das coisas. Eis aí o sinal profundo de seu temperamento artístico, que se acusa, mesmo na poesia. É sabido que, como poeta, realizou a mesma evolução que na prosa: suas primeiras poesias da mocidade são líricas, mas já as que escreveu na maturidade reveem a amargura do cético.

Uma consequência interessante do humour é a sua semelhança com o veneno. Parece que o humorista destila nos personagens que inventa um vírus qualquer. O personagem do humorista nota-se pelo desconcerto mental, pela loucura, pelo contrassenso. Humour é secreção venenosa, parecendo o humorista com os indivíduos que, para viverem, para se alimentarem, são dotados, como a cascavel, de um veneno que inutiliza as suas presas. Picados pelo humorista, os personagens

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