guincham, ululam, trejeiteiam, fazem esgares, tresvariam. Se há diferença entre o humorista e os indivíduos venenosos, é a favor destes, que ferem de morte a outro indivíduo com o fito de subsistirem, ao passo que o humorista lhes inocula a bílis pelo só prazer de vê-los estrebuchar. Tanto que assiste ao espetáculo com placidez incrível ou com a volúpia tranquila de quem está de barriga cheia.
Machado de Assis é um escritor que enlouquece, via de regra, os personagens a quem dá vida, como é homem que espalha ideias loucas. E dá vida ridícula e morte ridícula a seus seres, isto é, transmite-lhes uma coreia permanente.
É também o humorismo, conforme pensa Viana Moog(4), Nota do Autor fenômeno das épocas de decadência. Isto é compreensível, porque, nesses momentos históricos, desaparece a fé religiosa, anarquizam-se os costumes morais, lavra o ceticismo, apaga-se o idealismo. A atmosfera social torna-se favorável à expansão do humour. Por esta razão é que a palavra humour não existia em nossos dicionários, enquanto vigoravam as épocas de fé, entusiasmo, audácia e construção. Quando o ceticismo do século chegou até nós, surgiu Machado de Assis e a língua, então, os dicionários, como os escritores, consignaram o termo. É que apareceu a necessidade do humour, traduzindo a linguagem a existência do fenômeno. Não será de mais dizer, portanto, que o humorista é como náufrago a rir em meio do naufrágio. E em tal atitude de afronta, não joga apenas com os pensamentos, se não com a sua própria pessoa. Há dentro deste ponto de vista, uma passagem atribuída a Diógenes, que exprime a compostura do humorista. Alguém, munido de instrumento da época, visava a um alvo, posto em cima de um cômoro. De cada vez que o