Machado de Assis, o homem e a obra – Os personagens explicam o autor

que os fatos vieram aumentar de modo evidente. Principalmente os fatos externos, como a questão Christie, as guerras no Uruguai e com o Paraguai. Impunha-se a necessidade de governos fortes, sobranceiros ao entrechoque dos partidos. Em 1860, a vitória dos elementos liberais, chefiados por Teófilo Otoni, surpreendeu os espíritos. A Nação ficou como que atordoada. Era o triunfo democrático, pelas circunstâncias em que se processou. É que já começava a esboçar-se a ideia democrática, senão informada em pensamento político, pelo menos em desalento ou desencanto dos partidos. Nabuco afirma que o momento assinalou uma época em nossa história. A maré democrática, que havia baixado até a Maioridade, depois da reação monárquica de 1837, principiava a entumescer de novo. A chapa liberal saiu vitoriosa inteiramente: Otoni, Otaviano, Saldanha Marinho foram eleitos. Renovava-se o partido liberal. Teófilo Otoni só não dominou completamente o panorama político, porque, já velho, "homem acabado", não podia competir com o ímpeto das gerações moças. A reputação que o precedia avolumou-lhe as responsabilidades, com as quais não possuía elementos ou mesmo valor para poder arcar. Já era anacronismo. Entre os velhos, muitos o avantajavam. Entre os moços, alguns o sobrelevavam na tribuna, onde a eloquência difusa e prolixa se lhe tornava cansativa. O tribuno do povo, diz Nabuco que se sentia enjaulado no Parlamento. Já não era o homem, era a bandeira, o símbolo.

Quem compreendeu bem a psicologia da situação foi o senador Nabuco de Araujo: "essas denominações de Conservador e Liberal não consoam no presente", afirmava ele. Seus discursos costumavam definir-se na opinião pública, segundo a imagem saliente ou mais impressiva que empregasse no desenvolvimento deles. Assim ficaram conhecidas as orações do Sorites,

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