ele 23 anos. É uma crônica. E tal crônica, diz com acerto Mario de Alencar, compendia perfeitamente os característicos essenciais do espírito do autor, guardados sempre através da longa atividade intelectual. Dirigindo-se em tom recriminativo à pena, fala o autor: "não te envolvas em polêmicas de nenhum gênero, nem políticas, literárias, nem quaisquer outras; de outro modo verás que passas de honrada a desonesta, de modesta a pretensiosa, e em um abrir e fechar de olhos perdes o que tinhas e o que eu te fiz ganhar. O pugilato das ideias é muito pior que o das ruas; tu és franzina, retrai-te na luta e fecha-te no círculo dos teus deveres, quando couber a tua vez de escrever crônicas. Sê entusiasta para o gênio, cordial para o talento, desdenhosa para a nulidade, justiceira sempre, tudo isso com aquelas meias-tintas, tão necessárias aos melhores efeitos da pintura. Comenta os fatos com reserva, louva ou censura, como te ditar a consciência, sem cair na exageração dos extremos. E assim viverás honrada e feliz."
O ensaísta que citei, Mario de Alencar, ao transcrever, em livro, esta página, exclamou: "... aí está o que ele quis ser, aí está o que ele foi". De fato: quis ser assim e foi assim. Ou melhor: não o foi por que quis; assim foi, porque não podia deixar de ser. Tinha de ser assim pelo temperamento, pelo espírito, pelo ceticismo, pela doença, pela cor, pelas dificuldades de vida, pela falta de crença e, também, pelo caráter e senso de justiça que possuía. Está aí nessa página a conduta ditada pela precaução, a atitude da inteligência e, também, o receio da vida, o que vale dizer o medo da luta. Medo da luta? Sim, da luta estéril, estrepitosa, da luta em que entra o impulso, a paixão, o instinto. Não a luta interior, que constrói a personalidade e alicerça a força moral. No campo desta luta, Machado foi lutador.
Essas razões todas, de ordem psicológica ou mesmo fisiológica, é que moveram Machado ao retraimento das