"A cidade de São Paulo, frisa o autor francês, tributária e não súdita do rei de Portugal. Situada a dez léguas da costa foi como um refúgio de bandidos de todas as Nações, que pouco a pouco formaram uma grande cidade e uma espécie de República, cuja lei é sobretudo não reconhecer governador algum.
Circundada por altas montanhas só se pode entrar ou sair de São Paulo por pequeno desfiladeiro, que os paulistas vigiam atentamente com o receio de serem surpreendidos pelos índios (com quem quase sempre estão em guerra) ou de que estes, a quem escravizam, venham a fugir.
Estes paulistas vão em bandos de 40 e 50 homens, armados de flechas, e seguidos por bugres, de que se servem com uma superioridade que nenhuma outra nação possui. Atravessam todo o Brasil, vão até aos "Rios, ou da Prata ou Amazonas, e dali voltam, passados quatro ou cinco meses, às vezes com mais de 300 escravos que tangem como rebanhos de bois."
Pela referência se vê que o nosso engenheiro naval não estava bem ao par das distâncias através da vastidão sul-americana.
"Quando os paulistas têm amansado um pouco os índios, mandam-nos para os campos cultivar a terra ou os empregam a pescar (sic) ouro, continua o alvissareiro viajante. E do metal encontram tal abundância, que o rei de Portugal, a quem pontualmente mandam o quinto, recebe por ano mais de 800 ou 900 marcos."
Explicando contudo a natureza do imposto, pormenoriza logo: "Não é que lhe paguem estes impostos, a isto constrangidos, pois são mais poderosos do que ele: obedecem apenas a uma tradição dos pais, que