linha, e à iminência de entregar-se por falta de mantimentos, o Zumbi tentou uma saída desesperada, às duas da manhã de cinco de fevereiro. Com o seu povo se arremessou para destroçar a cerca que o envolvia e ganhar o mato. Não logrou o intento tal a rapidez da oposição que lhe apresentaram paulistas e pernambucanos e impelidos para a borda do abismo, junto ao qual estava a aldeia, lutaram na treva, precipitaram-se muitos pelas fráguas abaixo e os demais, subjugados, caíram cativos, em poder de Bernardo Vieira de Melo e Domingos Jorge. Levou o Zumbi duas balas, porém conseguiu fugir: só o mataram um ano depois.
COMO ACABOU O ZUMBI
Suicidaram-se em massa os negros que rolaram da alta rocha? Que de epopeia há nesse epílogo de uma guerra que os documentos coevos não embelezam - neles narrada como uma exemplar punição de homens indignos de piedade, sequer do tratamento dispensado aos Janduis "comedores de carne humana"?
Em carta de 18 de fevereiro o governador de Pernambuco explicou: " aprisionaram muitos e outros se tornaram a recolher, mas errando o caminho se despenhou grande parte deles de uma rocha tão alta que se fizeram pedaços..." Era noite escura. Não podiam os brancos ver o sacrifício, ou avaliar-lhe a grandeza. Apertados de encontro ao precipício, os negros tiveram de escolher, entre a escravidão e a morte. Numerosos se arrojaram no espaço. A lenda errou quanto ao Zumbi. Não caiu, como aguia ferida, do topo do penhasco, desdenhando os perseguidores e dando aos de sua raça um exemplo de altivez majestosa. A lenda (e Rocha Pitta) fantasiou-lhe um fim teatral. De fato, com duas balas no corpo e alguns sequazes se embrenhou no sertão.