PRÓLOGO
A fase de transição entre a abdicação do primeiro imperador e a maioridade do segundo é das mais difíceis que o Brasil atravessa. Nunca esteve, como nesses anos, em perigo a unidade brasileira, – essa milagrosa unidade que atravessa quatro séculos, através dos choques mais terríveis e se mantém através dos contrastes mais notáveis. Tanto mais espantosa ela nos surge, – e nos surpreende, – quanto mais estudamos as suas crises e acompanhamos os seus reveses.
À nossa mentalidade de homens dum século de vida intensa isso pode chocar e se constituir em surpresa: esse espanto ante a prodigiosa unidade brasileira. Estamos na época da transmissão vertiginosa das ideias e das doutrinas. Vivemos num tempo em que o mundo como que se tornou pequeno ante a multiplicação dos meios de transporte e ante a velocidade com que esses meios, vencendo as distâncias, diminuem a duração de percurso. E, com mais intensidade, o tempo que deve decorrer entre a causa e os efeitos dos fenômenos sociais. A aceleração cada vez mais intensa do processo histórico, iniciada com o advento da revolução industrial inglesa, e num aumento crescente, faz com que, encurtando distâncias e difundindo doutrinas, sejamos mais íntimos dos nossos longínquos irmãos dos outros continentes que o eram os habitantes da capitania de S. Paulo dos da capitania da Bahia, quando o Brasil atravessa a época imperial.