Essa diminuição dos espaços, pela redução dos tempos, essa facilidade de nos comunicarmos com indivíduos de todas as partes do mundo e de sentirmos e compreendermos os seus anseios e as suas inclinações, as suas necessidades ou os seus impulsos, os individuais como os coletivos, tornam mais una a humanidade. E ela seria, efetivamente, mais una se outros fatores, vindos no bojo da revolução industrial e transformados pelo passar dos tempos, não tivessem divorciado os agrupamentos humanos numa separação e num antagonismo tanto mais surpreendentes quanto essa vizinhança aumenta e se acelera.
O Brasil da Regência, entretanto, é uma vasta região em que, separados pela imensidade das distâncias, os lugares têm de viver uma existência forçadamente autônoma, entregues que estão aos seus próprios recursos. As províncias têm, a comunicá-las, o caminho longínquo do mar ou as estradas sussurrantes dos rios. Não há, dum modo geral, outras vias. Não há processos de transmissão de ideias. Não há repercussão dos acontecimentos desde que o eco deles não chega aos locais mais próximos, muito menos aos longínquos recantos do país. As viagens se fazem ainda, no interior, no lombo dos burros ou nas canoas que sulcam os rios. Por mar, as distâncias são da mesma ordem. E variam muito, ao sabor de condições de toda a sorte. D. Rodrigo Cesar de Menezes, entre cuja época de governo e os tempos da Regência os meios de transportes não mudaram muito, no Brasil, levou cinco meses na travessia monótona de Lisboa à colônia. (1) Nota do Autor De S. Paulo a Cuiabá, seguindo o roteiro dos bandeirantes, gasta quatro meses. Já Beresford, na sua segunda