carroça que alugara por três dobras (240 fr.) e que o condutor faria ótimo negócio se de volta me levasse como passageiro. Aluguei imediatamente uma canoa e fui falar com o carroceiro que se achava do outro lado da lagoa. O canoeiro estava meio embriagado, apesar de ter vindo à Laguna para confessar-se. A canoa era excessivamente pequena, começara a ventar e me arrependi de não haver ficado em terra. Conversando com o canoeiro, perguntei-lhe de onde era natural. Respondera-me que era de Santa Catarina; mas, tendo praticado um homicídio, fugira para as vizinhanças da Laguna e ali se casara. Encontram-se duas coisas dignas de observação nessa resposta: a facilidade com que esse homem escapara à justiça, sem mesmo ter-se dado ao trabalho de procurar outra província, e a ociosa confissão que ele ingenuamente me fazia de seu crime. Não era, aliás, o primeiro que me falava de um assassinio com tanta leviandade: "Eu sou um criminoso (em português, no texto) e estou sendo perseguido pela justiça" — era uma frase que se me tornara familiar. Na Europa, os homens do povo questionam continuamente, encolerizam-se por qualquer coisa e reconciliam-se com a mesma facilidade. Os brasileiros raramente se irritam uns contra os outros; mas, quando isso acontece, chegam a matar-se,