III
UM ENJEITADO DA MUSA
A natureza em si da profissão liberal conduzia Carvalho Moreira ao desdobramento contínuo de uma vida mundana, compensando pelos prazeres das relações sociais as deficiências do Rio, medíocre ainda em atrativos e diversões.
Começando pelo escritório de advocacia, os seus domínios se dilatavam até à arte Imperial.
No escritório de Moreira, já advogado de renome e com o bafejo de uma deputação na certa, trabalhavam, como estagiários e seus auxiliares diretos, Francisco Otaviano, Arêas (depois Visconde de Ourem), Olimpio Machado e José de Alencar, aquele mesmo que seria mais tarde o grande romancista do Brasil.
Segundo uma testemunha, era o centro de palestra da mocidade da época, onde se reuniam, além de outros, espíritos como Sinimbú, Ferraz, Fabio e Wanderley.
Todo um horizonte de esperanças e ilusões enchia a imaginação dessa nova plêiade, enamorada da existência, desafiando a sorte com as reservas do talento, afrontando o desconhecido com as arrebatações desordenadas do romantismo...
Gonçalves de Magalhães, em 1836, já servira esse veneno do romantismo à sociedade brasileira, em doses infinitesimais, nas estrofes douradas dos seus Suspiros poeticos e saudades.