Assim o poeta descreve sutilmente as fases com que a natureza assinala no homem o nascimento e morte do desejo. Gota a gota, verte a malícia. Desde a "linda borboleta que se mexe, se agita, e que pulula", do "tição ardendo num brasido", até ao "caniço que o tufão enverga", à "espiga que uma ave faz pender".
Carvalho Moreira, ainda nas vizinhanças dos trinta anos, seria o "ligeiro cão de raça" ou o
"Passareiro senhor das armadilhas
Que sob as saias amor soe esconder."
Menos extenso, mais condensado, também mais cruel, o poemeto sobre Eva arruma fortes duchas que algumas vezes atinge a manifestações de verdadeiro sadismo poético...
Sem o vaticínio final de "no gremio repousar de Deus" destinado ao sexo masculino, os versos terminam secamente, sem piedade:
AS IDADES DA MULHER
"Aos dez anos Donzela é um livrinho
Intitulado o berço da natura;
Aos quinze anos é gentil cofrinho
Que só se abre forçando a fechadura.
Aos vinte é a mulher mato espinhoso
Onde entra o caçador fusil armado;
Aos trinta é bocado mui gostoso,
Bem tenro e ao espeto preparado.
Aos quarenta é já velho bastião
Onde fez o canhão mais de uma brecha;
Aos cinquenta é um velho lampeão
Onde só a pesar põe-se uma mecha."
Aqui quase que chegamos a um predecessor do realismo de Zola, carregado, ameaçando mesmo o pudor desprevenido, quando se narram "Os infortunios de Ema". O infortúnio é um episódio banal, sem interesse psicológico. O encontro furtivo de dois amantes sob uma latada de alfazema, surpreendidos no seu amor.