Um diplomata brasileiro na corte de Inglaterra: o Barão de Penedo e sua época

Aos vinte, todo fogo e ousadia,

É um tição ardendo num brasido,

Uma torrente em jorro que ameaça,

Oceano que brame com rugido;

Um garanhão a farejar a egua,

Um leão pronto sempre a devorar;

Um glotão, um canibal terrivel,

Uma garça a querer tudo extripar.



Aos trinta é um ligeiro cão de raça,

Um caçador mui dextro e mui machucho,

Capaz de encurralar uma caçada

Sem estragar polvora nem cartucho;

Passareiro senhor das armadilhas

Que sob as saias amor soe esconder,

É um Vauban que sabe pôr um cerco

E as torres e os castelos abater.



Toda essa furia vai-se aos quarenta anos

Por muito haver a mola trabalhado;

Pouco mais tarde é um corcel de raça

Que reclama bom trato, e ser poupado.

É um poste que serve de limite

Dum bom passado para um triste porvir;

É um banqueiro prestes a quebrar,

A que vem um velho credito acudir.



Aos cinquenta é já fruto sazonado

Que o menor sopro abala e faz cair;

É um filho das margens do Garona,

Que mais promete do que pode cumprir.

É um caniço que o tufão enverga

Uma espiga que uma ave faz pender;

É a triste miragem do passado,

O sol que vai fugindo a se esconder.



Aos sessenta é um fantasma, um silfo

Que a vista pode apenas enxergar;

Dez anos mais um átomo ligeiro

Um som perdido dificil de apanhar.

Aos oitenta é o traço que voando

Deixa a carriça sumindo-se nos Céus;

Aos cem anos somente alva que passa

Para no gremio repousar de Deus."

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