O intendente Câmara; Manuel Ferreira da Câmara Bittencourt e Sá, Intendente Geral das Minas e dos Diamantes (1764-1835)

parece-me que ainda se estenderam mais suas idéias: querendo deste modo, que o ouro reduzido a barras, servisse de moeda ao país - e que se evitasse, quanto mais possível fosse, a perda que diariamente acontece no tráfico do Comércio - pezando o ouro em balanças, e trazendo-o embrulhado em papeis. Vejamos em breve se estas que parecem ser as intenções dos que fundaram estas Casas, corresponde de feito ao que presentemente vemos. Quanto à 1º que parece ter tido melhor sucesso, nem todo o que o Estado desejaria - porque os mineiros, vendo que a perda ordinariamente é certa nas Casas de Fundição, deixam de fundir o ouro, e fomenta-se o contrabando. Não cumpre dar disto maiores provas, que a imensidade do ouro, que todos os anos, passa a Portugal reduzido a trastes, que dá bem a entender quanto se fabrica no Brasil, e de que o Estado quando se dá a manifesto, percebe um em vez de 21: as repetidas tomadias de ouro em pó, e algumas em meus dias bem avultadas, não deixando de meter em linha de conta as que se não apreendem, são uma prova exorbitante do que hei dito. Os motivos porem que há para que os mineiros experimentem ordinàriamente perda são as razões porque a 2ª parte das intenções dos que fundaram estas Casas não têm tido o sucesso desejado.

Principiemos pela incapacidade e ignorância dos intendentes ou inspetores cuja obrigação é vigiar pelo interêsse do Estado, e dos vassalos em tudo o que ha relação com a fuzão do ouro. Não carregados com as intrigas do foro contentam-se com assinar as guias que acompanham as barras, e deste modo julgam ter feito a sua obrigação. Os chamados fiscais não são entre nós mais que meros percebedores do interêsse que lhes resulta de assinar seu nome nas mesmas guias. Os ensaiadores têm ordinàriamente este título: não fazem mais do que tocar o ouro fundido, e compará-lo com o toque de umas agulhas, bem ou mal ensaiadas - e ninguém duvida quanto é incerto este meio de estabelecer o título do ouro: todo êle se funda em uma comparação do orgão da vista, que sempre se reporta ao batismo das agulhas.

Não é porém esta a sua obrigação, o ensaio deve se fazer sempre principalmente quando a mina é nova, reservando o toque para o ouro, que chega misturado à Casa de Fundição. Mas, que ensaio farão os nossos ensaiadores das minas? Sua ignorância é tal, que o quinto do ouro,

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