Outro poderoso elemento de agitação para ideologias do gênero era a dissensão lavrante entre aliados. Existe repetição na história que demonstra a tendência dos que se agrupam para fins bélicos contra determinado adversário, se desavirem na vitória e invariavelmente procurarem o vencido para se voltar contra os antigos parceiros. A Rússia comunista depois de 1917 só cogitava de incendiar o mundo para poder subsistir. A Inglaterra voltara ao isolacionismo da Rainha Vitória, época do esplendor do seu colonialismo. A França caíra por completo nas mãos do professor de liceu, saído da École Normale, pequeno burguês, nacionalista, patrioteiro, decoré e ignorante de geografia. A América se vira repelida da Europa pelos que lhe atribuíam todas as culpas de Versalhes. Nesse ponto, aproveitadores e aproveitados estavam uníssonos, impressionantemente acordes, franceses, ingleses, alemães e tutti quanti. Desmanchara-se a antiga aliança. O terreno estava livre para aventureiros.
Presumia-se na França, em 1936, que a Europa democrática liberal atingira o derradeiro limite na contemplação ante o procedimento de Hitler cada vez mais ameaçador para a paz do mundo. Nessa época, estávamos em Paris e ouvimos este vaticínio do livreiro Chadenat, que na véspera estivera com clientes seus norte-americanos e políticos franceses. Pensamos tratar-se do embaixador Stetson, representante dos Estados Unidos na Polônia e do Ministro Daladier. Pensavam de qualquer modo acertadissimamente. Transposto aquele período não mais seria possível levantar barreiras ao rojo nazista. Mas como realizar medidas salvadoras com aliados divididos? Enquanto o perigo não se revelasse em toda a sua extensão, a ameaçar-lhes a bolsa e a vida, nada fariam. Os ingleses flertavam nessa altura com os alemães, segundo verificamos a bordo do navio da Royal Mail que pouco depois nos trazia de volta ao Brasil.