O Brasil e o colonialismo europeu

bens do vencido, que no Brasil seriam os índios, como outrora as povoações das Gálias foram assoberbadas pelos romanos, ou em África os egípcios pelos Tolomeus. Não atingira a Grécia antiga o fastígio da civilização sobre alicerce do regímen servil? Porventura os romanos não a suplantaram ao acompanhar-lhes as pegadas? Invasores nórdicos e muçulmanos acaso não procederam do mesmo modo? Igual trilha percorreria o lusíada na América, onde, convém notar, encontrara escravidão entre índios.

Dominado por esta mentalidade, o ádvena levantou insanável conflito com o primitivo dono do sítio, mais sensível à opressão do trabalho nos moldes alienígenas que à perda da liberdade. Acresce, no caso do homem americano, falharem sobre ele todos os meios de pressão e de persuasão eficazes em indivíduos de outros continentes. O que podia constranger europeus, africanos ou asiáticos a aceitar enfeudações sociais, políticas e econômicas, redundava inútil em tupis e tapuias. Verificada a inadaptabilidade do índio ao que o português dele exigia, impôs-se cogitar de substituto e este foi o negro.

O instrumento de trabalho escolhido para assegurar o progresso das colônias era sobejo conhecido na Europa meridional antes de vir ter à América. Em Lisboa, Algarves, Andaluzia e muitos mais sítios, era tamanha a quantidade de pretos, que a região às vezes parecia prolongamento de tratos africanos a continuar na margem europeia do Mediterrâneo. Dava-se o mesmo nas ilhas do Atlântico, onde a mor parte dos trabalhadores eram escravos da África equatorial. Introduzido o tráfico negro nas Antilhas em 1506, com razão pensou-se que daria resultado semelhante no Brasil. O africano rústico e robusto, originário de regiões de clima tórrido e úmido como grande parte da zona americana para onde o remetiam, familiarizado desde séculos com a

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