A Bahia e as capitanias do centro do Brasil (1530-1626). História da formação da sociedade brasileira. Tomo 3º

que, a despeito dos esforços dos padres da Companhia de Jesus, tinham os portugueses descido do sertão mais de 80 mil selvícolas, o que representa espantoso morticínio.

As reservas de braços acobreados pareciam de princípio infindáveis, suscetíveis de desenvolver em curto lapso a lavoura do Brasil, dispensando até certo ponto o custoso africano, cujo complicado tráfico absorvia grande parte dos proventos da indústria açucareira. Estava ali mesmo o trabalhador, ao alcance de quem quisesse com a cumplicidade do governo buscá-lo por matas e descampados de fácil acesso, ao longo do mar, numa estreita faixa delimitada pelas praias e o hinterland agreste. Este elemento, porém, que se afigurava providencial, revelava-se imprestável para o destino que lhe queriam impor. Dava algum auxílio ao desbravador-lavrador nas derrubadas de matas, e na caça e pesca com que podia abastecer os senhores. Mas desconhecia a dura faina agrícola nos moldes do trabalho europeu, ao qual não se adaptava, tanto mais pelo fato de muitos deles serem nas tribos confiados às mulheres. A brutalidade com que eram tratados, em virtude da rebeldia, ocasionava o resto, e antigos cronistas nos dizem como preferiam o suicídio ao trabalho na servidão. A sua extrema emotividade, mui diversa da placidez de congos e angolanos; e senso da liberdade até hoje mal entendido pelos nossos historiadores; tornava-lhes intolerável o regime servil ainda se apresentasse com promessas de resgates e alforrias. Resistiam pouco a contágios comuns entre brancos, inadaptáveis a outras regiões que o seu habitat, vendo-se nas ruas de Lisboa exemplares de todos os setores do império em que o sol nunca se punha, exceto americanos.

Logo na fundação da cidade do Salvador houve mortífero surto disentérico que reduziu a indiada de boas avenças com os brancos, graças aos jesuítas, a alguns casais

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