A Bahia e as capitanias do centro do Brasil (1530-1626). História da formação da sociedade brasileira. Tomo 3º

A imediata consequência da calamidade foi provocar outra, que era a fome decorrente da falta que faziam os 30 mil mortos na ocasião, antes que fossem reunidos outros braços para substituí-los. A essas grandes pandemias, que em poucas horas despovoavam as aldeias do gentio, devemos acrescentar outros males, como o tenaz e insidioso coriza, aparentemente inofensivo em brancos mitridatizados com os seus efeitos, que no organismo dos tupi não encontrava resistência, prostrando-os inanimados e inutilizados para o trabalho. Os mamelucos já aparentavam resistência um pouco maior, se bem meãos em geral, cor terrosa, olhos algo amendoados, cabelos oleosos, ossatura pobre e maus fígados, dispunham, entretanto, de rusticidade altamente apreciável num meio agreste. Eram o resultado do convívio de brancos e índios, e sem embargo de prédicas trovejantes dos clérigos contra a dissolução de costumes, multiplicava-se para maior segurança da terra que saberiam amar e defender.

Antes da mudança registada no setor do trabalho pela substituição do índio pelo negro, que se completou somente depois da guerra holandesa, conformava-se o agricultor com o aleatório sistema do reloteamento do eito e da senzala, tal no reino faziam com os vinhos conservados em barricas, que todo ano deviam receber um tanto de aguardente mais vinho novo, para refazer as perdas por evaporação. O índio também parecia evaporar-se na vizinhança dos povoadores, criando seríssimo problema para quem ansiava desdobrar canaviais, e via o instrumento necessário diminuir em vez de aumentar. Era a preocupação dominante, tirânica, onipresente a torturar os ambiciosos, que devemos atribuir o episódio de Fernão Cabral de Ataíde. Este fidalgo cristão-velho, senhor de engenho, proprietário de navio, marido infiel, era dos principais personagens da capitania baiana. A sua esposa alanceada de ciúmes, queixava-se amargamente da mulata que mandara

A Bahia e as capitanias do centro do Brasil (1530-1626). História da formação da sociedade brasileira.  Tomo 3º  - Página 312 - Thumb Visualização
Formato
Texto