uma curiosa convenção do tempo, de que o compadrio implicava incesto, sendo o dito Cabral duas vezes seu compadre. Todavia, este ao ouvir o que a respeitável Luisa alegava, enfureceu-se, "torcendo os bigodes", e dizendo que aquilo eram "carantonhas que uma bochecha de água lavava". Ainda mais se zangou quando ela além de lhe exprobar o procedimento, prosseguiu na recusa, dizendo Fernão com terrível aspeto, que a forca lhe pelasse as barbas se não a tomaria ao marido, o amarrasse numa árvore e perante ele não "dormisse" com ela por bem ou por mal.
Supondo-se acima das leis e costumes, cortejado pelas autoridades quando necessitavam de troços armados para combater gentio insubmisso, não vacilou em recorrer a criminoso ardil para angariar os braços que as suas lavouras necessitavam. Ocorreu-lhe aproveitar o extraordinário aparecido nas redondezas, o mestiço Tomacauna, lídimo representante dos indivíduos marginais que no fim do século XVI, por um encadeamento de circunstâncias, exerciam papel de primordial alcance. Eram como os náufragos e desertores nas praias da América e África, os "lançados" da proto-história desses continentes, constituídos por gente aventureira, maus cristãos, cruéis e acutiladiços, que no Brasil serviam de intérpretes, feitores ou esculcas dos invasores. Por seu intermédio visava Fernão Cabral conseguir servos aproveitando-se da grosseira paródia do culto cristão em que os índios da abusão desandavam, estratagema imperdoável para um católico daquele tempo.
Outros proprietários das redondezas assim procediam. Contava-se na Bahia que também na fazenda de Álvaro Rodrigues, da Caxoeira, registavam-se abusos semelhantes. Este mameluco, descendente do Caramuru, não primava pelo espírito cristão, antes parecia índio ainda no paganismo.