a argolinhas mas com os olhos fechados como a cabra-cega". Além disso, o mestiço fora ouvido quando dizia em língua gentílica aos brasis da abusão: "Bebamos o fumo que este é o nosso Deus que vem do Paraíso".
Em todo caso, conseguiram os da Caxoeira livrar-se dos inquisidores melhor que o Cabral. Ao que parece, a situação do segundo por ser branco, reinol e nobre lhe acarretava agravantes, tidos os seus atos de muito maior alcance que os de um simples mameluco. Era como no reino consideravam as blasfêmias de almocreve, ainda incidentemente proferidas ante o inquisidor geral, e as opiniões discretamente emitidas por Damião de Goes. Um podia berrar impropérios em qualquer hora e lugar, ao passo que o outro se viu em maus lençóis para explicar a notícia de um seu encontro com Lutero, em que o heresiarca lhe oferecera uma maçã, tal qual a serpente no paraíso induzindo nosso avô ao pecado. Acrescia outro fato imperdoável. Aproveitara-se Fernão Cabral da abusão para atrair a sua fazenda "gentios do Brasil já cristãos que das aldeias e casas dos seus senhores fugiam para lá". Fácil conceber a cólera dos proprietários prejudicados pelo audacioso plano do vizinho, assim como o sobressalto das autoridades obrigadas a intervir neste perigosíssimo precedente. De forma alguma podiam tolerar o abuso, que no reino seria recebido com escândalo e indignação, e trataram de providenciar antes que lhes chegassem censuras pela desídia.
Alheio ao temporal que se aproximava, tão somente preocupado com um bom negócio em perspectiva, via-se Fernão Cabral enriquecido pelo maior contingente de trabalhadores até então recrutado numa fazenda. Com este desígnio mandou o mameluco Tomacauna ao sertão ver se