A ideia caminhava. Como a torrente que, engrossada pelas águas da chuva, se arrasta barrenta, pesada como um manto de mercúrio, ela ia lentamente, quase sorrateiramente, invadindo todas as consciências, absorvendo todas as energias, vencendo todas as resistências. Entre 1868 - quando Luiz Gama, um antigo escravo liberto, fora demitido do emprego por professar ideias abolicionistas - e 1878, quando a imprensa, a rua, o campo, a sociedade, tudo enfim começava a ser minado pelo abolicionismo, iam dez anos apenas, mas que pareciam um século pela marcha vertiginosa dos novos ideais. "A instituição estava definitivamente condenada na opinião pública, e foi somente apelando para o direito de propriedade, a necessidade de ordem, e a própria existência da nação, que se havia conseguido; por tantos anos, o silêncio sobre ela. As afirmações dos emancipadores, qualificadas pelos adversários de revolucionárias, de anárquicas, de incendiárias, não precisavam senão de ser repetidas algumas vezes para triunfar pela própria justiça e pela verdade. O sentimento já existia, só lhe faltava organização"(4). Nota do Autor
IV
Essa agitação popular assumiu tais proporções, que se tornou impossível aos diversos gabinetes se sucederem no poder sem manifestarem direta ou indiretamente uma