V
Durante os cinco primeiros anos da agitação, isto é, até 1884, o Imperador guardou uma atitude de discreta reserva. Embora fossem conhecidas suas ideias favoráveis aos escravos e o empenho que pusera na preparação da Lei do Ventre Livre, ele entendeu dever guardar, nessa primeira fase da campanha, a sua posição estritamente constitucional de chefe de Estado. Deixou que os gabinetes liberais que se sucederam no poder julgassem por si mesmos da necessidade ou não de empenharem o Governo em qualquer compromisso emancipador, Manteve uma atitude de simples espectador. E se alguns de seus atos - puramente pessoais - puderam significar uma franca simpatia pela sorte dos escravos, como Soberano, porém, como chefe de Estado, nada há de que se lhe possa atribuir. Toda a sua ação até então, e mesmo até o fim da campanha, foi muito mais reservada, muito mais discreta, do que durante o período de elaboração da Lei do Ventre Livre, quando ele tomou não somente a iniciativa de sugeri-la, como acabou por patrociná-la abertamente, levando de vencida a tenaz resistência de seus ministros e conselheiros.
Sua parte nos antecedentes da lei 13 de maio foi muito menos importante, muito mais modesta. Porque? Antes de tudo, sua idade era outra. Não tinha mais os ímpetos da mocidade. Por isso mesmo o lado sentimental, o lado idealista, que todo homem possui nessa fase da vida, estava sensivelmente diminuído.