II
ÓRFÃO DA PÁTRIA
Antes dos seus seis anos, era uma entidade política.
Juntava ao nome um algarismo: Pedro II.
Beijavam-lhe a mão pequenina, chamavam-lhe: "Meu Imperador".
Foi o tratamento que o acompanhou toda a vida.
Não se lembraria mais do tempo em que os mesmos criados do Paço o tratavam de Alteza, como às irmãs Januaria, Paula e Francisca. Era Majestade, como D. Maria da Gloria, a "mana Rainha", sua irmã também no destino, de ter uma coroa, esmagando-os. E como isso lhe fazia medo!
Tudo ficou triste, tragicamente sombrio, depois da madrugada da Abdicação.
O palácio esvaziou-se; as aias choramingavam pelos corredores; desaparecera a Guarda de Honra, de uniformes brancos, com os altos capacetes, nos quais um dragão de bronze entreabria asas eriçadas; fora um sonho glorioso, que se dissipara... A revolução entrara como um pé de vento, assobiando e rugindo,