por todas as frestas. D. Pedro não podia perceber exatamente o que se passava à sua volta: as aclamações populares, quando o exibiam à janela, os antigos servidores substituídos, a insolência com que os novos falavam aos velhos, o ar torvo dos funcionários jacobinos, que iam vê-lo (D. Mariana de Verna pensava no sapateiro Simão, nos carcereiros dos reis), o silêncio majestoso do tutor, José Bonifácio, e a consternação das boas senhoras que lhe diziam, com os olhos vermelhos, que não haveria de sentir falta de sua mãe que estava no céu. Todas essas impressões de mudança, de hostilidades, de luto, se misturavam, na sua retentiva alarmada, em forma de um terror infantil, que por pouco não o matou.
Precisavam distrair a criança, dar-lhe companheiros e brinquedos, uma atmosfera própria; e no entanto o prendiam, na seriedade de uma vida metódica, medida, conventual, que só tinha de sol e primavera a escassa hora de um passeio matutino.
Agarrava-se à roçagante saia de Dadama; ela chamava-lhe, aconchegando-o de encontro a si, "Imperador"...
Era costume então se vestirem os meninos como homens, imitando-os, precocemente velhos.
Usavam calças compridas, jaqueta inglesa, colete com uma cadeia de oiro, e ao pescoço a gravata de volta, que emoldurava de uma cor séria a cabecita inquieta, mas pesarosa. Com uma roupa assim, o pobrezinho folgava como os papás; aprendia equitação, boas maneiras, o seu francês e piano. Nem esportes rudes, nem carreiras pelos campos, ou o livre riso, que é, para as crianças, como o canto para os passarinhos. Vários séculos de educação cortesã produziam, em