O rei filósofo: vida de D. Pedro II

borboletas, história sagrada e outros assuntos sérios... Devia repousar em seguida, mas nalgum passeio ligeiro, moderado, sem saltos nem carreiras, até o crepúsculo, quando recolhia, para ler. Às oito fazia as orações da noite, ceava às nove; e às dez devia estar deitado. O dia seguinte seria igual ao anterior. O Regulamento inflexível, a camareira, o camarista, o médico impecáveis, as palestras examinadas com antecedência, como os pratos: tudo quieto, regrado e previsto.

Havia uns indiscretos raios de alegria, varando essa rotina; quando alguns meninos de boa estirpe tinham permissão para ir à Quinta, e o preto Rafael podia divertir com as suas histórias ou conduzi-lo a percorrer as alamedas, montado o Imperador sobre o seu pescoço robusto.

Poucos rapazinhos mereciam tal honra: os filhos de Aureliano Coutinho, protegidos de Dadama e do tutor; os do professor Candido José de Araujo Viana, alma lírica, a quem o ligou sempre uma amizade verdadeira; e um predileto, filho de um desembargador, vizinho de D. Mariana, que, encantada pelos modos corretos do menino, o levou a S. Cristóvão, Luiz Pedreira do Couto Ferraz. Seria este o amigo de toda a vida, o melhor, que, para não o largar, deixaria uma vez a política, renunciaria ao poder, e passaria à história com o título, que era uma síntese biográfica: o Bom Retiro... Completava o grupo o filho de Roque Schuch, bibliotecário austríaco da imperatriz defunta, e um ano mais velho que o Imperador; de sobrenome Capanema, criaria os telégrafos no Império.

Brincavam de soldado, em grotescos exercícios militares. Também de religião. Tinham parte nisto as princesas. D. Francisca fingia de padre, D. Januaria e o imperador de acólitos, e imitavam, com uma gravidade

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