O devassamento do Piauí

ele comandava (Frei Vicente do Salvador, 517). Vale a pena recordar o trecho de Frei Vicente:

"E porque no mosteiro do Carmo, que está fora defronte della, se haviam agasalhado dous portuguezes com suas mulheres e familias, se murmurava delles que serviam de espias aos holandezes e lhes davam signal e aviso com o sino, pera que então lho não dessem mandou diante Francisco Dias de Avila com indios frecheiros e alguns arcabuzeiros que os prendessem, o que os indios fizeram com tanta desordem que antes elles foram os que deram aviso e signal. Porque, em chegando ao dito mosteiro e não lhes querendo os de dentro abrir, entraram por força, dando um urro de vozes tão grande que, ouvido pelos hollandezes, tiveram tempo de se aperceber, de sorte que, quando os quizeram commetter que era já sol sahido e vieram descendo a ladeira do Carmo e alguns já subindo a da cidade pera entrarem pela porta onde estava uma fortaleza, lhe tiraram della tantas bombardadas e mosquetadas que os fizeram tornar por onde vieram e ainda os foram seguindo um grande espaço, sendo que eram os portuguezes mais em numero e, si se dividiram em algumas mangas que commettessem juntamente por outras partes da cidade que ainda não estavam fortificadas, por ventura a recuperaram."

Depois desse fracasso, e da inépcia que ele revelava, não havia como incumbir Francisco d'Ávila de empresas guerreiras. Omitido nos historiadores da guerra, não lhe encontraram os panegiristas mais que o episódio quase facecioso de Frei Vicente, o que não impede que se dramatize a cena burlesca numa frase corajosa: Francisco Dias d'Ávila comandou a retirada!

O devassamento do Piauí - Página 165 - Thumb Visualização
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